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Mario Eduardo Garcia

Alerta "transporteiros"! O futuro chegou.

Em postagem de janeiro deste ano [1], dizíamos que em matéria de mobilidade "uma grande mudança está em curso, movida por tecnologias de ruptura que alteram comportamentos e criam novas expectativas." Pouco mais de seis meses se passaram e a velocidade das transformações é avassaladora, espraiando-se de fora para dentro na indústria do transporte, onde desafiam um DNA conservador que teima em resistir, aferrando-se ao status quo. Pioneiros da aventura tecnológica e o clã dos paradoxais sonhadores pragmáticos desvelam propostas que estão no limiar da realização concreta e prometem radicais mudanças em um setor da infraestrutura que, em países como o nosso, não está sabendo responder às expectativas da sociedade.


Tomemos um exemplo.


Há cerca de 15 anos chamou alguma atenção o livro publicado no Reino Unido "Innovations in Freight Transport", coordenado por E. Taniguchi, da Universidade de Kyoto e R. G. Thompson, da Universidade de Melbourne, também coautores. Dentre outros temas o livro aborda os usos das tecnologias de comunicação e informação e dos recursos do transporte inteligente na gestão logística de empresas e governos. Daquela data em diante apreciável progresso ocorreu nestes 15 anos, inclusive sob a pressão de novas demandas, como a do crescente e-comércio / "businesses to consumers" B2C. Mas por aqui esses desdobramentos foram lentos, ainda estamos engatinhando, à procura de soluções para questões mais básicas. Vejam-se o estado de nossa infraestrutura e os problemas da logística urbana. E veja-se que, salvo raras exceções, não se conhecem planos efetivamente integrados de mobilidade passageiros e distribuição de cargas em nossas grandes cidades!


Hoje, já um pouco além do limiar do século XXI, um capítulo daquele livro parece ter sido profético. O que trata do transporte subterrâneo de cargas sólidas. São elencados os tipos de infraestrutura testados ou em cogitação, em particular os projetados para operar com veículos-cápsulas trafegando por dutos, com impulsão pneumática. Embora essas idéias não fossem propriamente novas, o estado-da-arte de seus componentes, inclusive o da construção de túneis, não abria perspectivas de viabilidade econômica.


Com o passar dos anos, entretanto, o conhecimento vai evoluindo com fantástica rapidez. Novas e grandes mudanças não podem ser descartadas, pois cada vez mais os avanços tecnológicos estão transformando o modo em que vivemos. Se visionários como Steve Jobs souberam combinar gênio criativo, base técnica e apelo comercial na revolução digital, também na área dos transportes aparecem campeões. Por exemplo, nos últimos tempos aumenta o destaque, nesse setor, do também visionário Elon Musk. Ele foi, "apenas", o criador do sistema de pagamentos PayPal e é o CEO da Tesla, fabricante do icônico automóvel elétrico estadunidense, que se prepara para lançar ainda este ano um caminhão elétrico com autonomia de até 500 km [2]. É também o fundador e CEO da SpaceX, fabricante de foguetes reutilizáveis de lançamento de satélites e fornecedora da NASA, um primeiro passo de sua obsessão por futuras viagens interplanetárias [3]. É ainda o idealizador do conceito Hyperloop, que visa o transporte coletivo e individual de passageiros e de cargas urbanos e intercidades, a altíssimas velocidades, em túneis [4] ambientados em baixa pressão e dispostos em múltiplas camadas se necessário. Para demonstrar essa idéia arranjou tempo para organizar uma nova empresa, The Boring Company. A partir da convicção de que o setor de construção é um dos únicos da economia que não melhorou a sua produtividade nos últimos 50 anos, Musk promete revolucionar custo e prazo de construção de túneis, reduzindo-os drasticamente.[5]

Túnel experimental em escavação pela The Boring Co. em Los Angeles

Foto obtida a partir do twitter de Elon Musk (12,7 milhões de seguidores!)

Esse descortinar mostra como nossa tarefa no Brasil é hercúlea e urgente. Precisamos superar o atraso da infraestrutura, sem perder de vista o futuro imediato, que traz oportunidades eletrizantes. Se nossos planos -- que consomem uma década da concepção à execução e têm horizonte de 20 a 30 anos --, continuarem a se pautar apenas pelas tecnologias de transporte atuais, sem ao menos cotejarem o cenário conservador com uma visão alternativa de inovações, perderemos o bonde da história e ficaremos em lamentável débito para com o futuro e as novas gerações, com escassas possibilidades de recuperação.

 

[1] Ver https://www.megarcia.com.br/single-post/2017/01/30/Mobilidade-Inteligente-novo-paradigma-no-planejamento-de-transporte-urbano

[2] Musk também vai produzir telhados solares para abastecer as baterias dos carros e caminhões.

[3] Em março de 2017 a SpaceX fez história. Pela primeira vez um foguete colocou em órbita um satélite de comunicações e voltou à Terra, pousando em uma base flutuante no oceano.

[4] Também podem ser construídos em dutos elevados.

[5] Duas empresas americanas, a Hyperloop One e a Hyperloop Transportation Technogies já mobilizaram parceiros e recursos para finalizar os testes e comercializar projetos com base na tecnologia Hyperloop.

 


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