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Mario Eduardo Garcia

Como estará o Brasil em 2022, no bicentenário?

Outubro de 2018 é ponto de encontro com o destino.


Nessa data partidos políticos velhos, grandes, esclerosados por práticas obscuras e antieconômicas, voltarão a prometer a felicidade a torto e a direito, expondo a população a novas vicissitudes. No entrechoque da campanha, sempre entre os mesmos arcaicos personagens, nenhuma proposta realmente comprometida com a mudança de rumos, em busca de uma sociedade plural e que ofereça igualdade de oportunidades. Por que essa lacuna tão importante? Porque, como diria Giordano Bruno, é rematada ingenuidade esperar dos donos do poder a reforma do poder. Assim, passada a eleição, serão esquecidas as promessas vazias e reaberto o ciclo do chamado “presidencialismo de coalizão” – elegante nome para o mais puro fisiologismo político, em suas múltiplas e intoleráveis variantes –, chaga que infelicita a nação e que aceitamos passivamente, em resignada prostração de espírito. Uma coisa é a composição política legítima em torno de programas validados pelo povo, outra é a cínica formação mercantilista de maiorias parlamentares perpetuadoras do atraso econômico e de um desumano status quo social.


Nesse script que é sinistro porque é provável, esvai-se a oportunidade de chegarmos a 2022, bicentenário da independência, com o país se abrindo para as oportunidades do século XXI. Século em que a sabedoria trazida pela consciência histórica e pela inteligência das novas tecnologias pode dar lugar a sociedades mais justas, seguras e sustentáveis. É pena, estaremos longe disso. Iniciaremos o terceiro centenário ainda deprimidos pela perplexidade, convivendo com atores políticos mortos-vivos, trocando ofensas pelas redes sociais na falta de um propósito comum. Embora sabendo que fora do território da política – a verdadeira, com P maiúsculo – não se constrói um país propicio para todos os seus habitantes e não só para os afortunados, continuaremos vencidos pela impotência cívica, incapazes de resgatar os valores democráticos da cidadania.


Quem são os responsáveis pela calamidade? A resposta é simples, somos nós mesmos, os que, já emancipados da luta diária pela sobrevivência elementar, limitâmo-nos a usar o excedente de nossos recursos e energia para deblaterar contra a escuridão. No mais, permanecemos em messiânica espera ou envolvidos na faina de escarafunchar um sistema político exaurido, na inglória e vã expectativa de aí encontrar o futuro. Se é verdade que o amanhã se resolve hoje, não será esse o caminho mais prudente nem o mais inteligente.


Não devemos nem precisamos carregar o fardo da abominável herança de partidos envelhecidos. Vamos largar isso na estrada, terminar logo e com bom senso a autópsia do passado recente insepulto e descortinar novos horizontes, respirar ar puro, acreditar que não são utópicas aspirações políticas desafiantes, geradas democraticamente. Vamos fazer de 2018 a alavanca para um 2022 pleno de esperança de um Brasil eficiente e justo, preparado para superar as forças paralisantes do espectro conservador. Aqueles que se juntarem a esse esforço civilizatório terão cerca de um ano para entrar em 2018 com suas propostas amadurecidas, prontas para serem discutidas com instâncias partidárias genuinamente renovadoras e depois submetidas à refrega eleitoral.

Um possível ponto de partida? Ainda que sujeitos ao patrulhamento dos descrentes, ensaiemos uma contribuição, em coerência ideológica com o Manifesto que inaugurou este site/blog há cerca de um ano:


1 – Ao longo de sua história o liberalismo capitalista não proporcionou uma vida decente para todos. Não trouxe segurança social e acentuou os contrastes entre pobres e ricos.


2 – O socialismo estatal por seu turno comprometeu a liberdade e desidratou o rendimento do sistema produtivo, sob a ditadura de um partido único.


3 – Precisamos de um regime político que garanta a pessoas e empresas o direito de produzir com eficiência, desvencilhando-as de asfixiantes amarras burocráticas e antieconômicas. E que, recuperado o crescimento, divida com sabedoria os frutos do progresso, remunerando com justiça o capital e o trabalho, na trajetória para uma sociedade menos desigual. Associações empresariais avançadas, socialmente responsáveis e sindicatos de trabalhadores fortes e sem peleguismo são protagonistas essenciais dessa jornada.


4 – O novo regime deve assegurar uma eficaz rede de proteção social aos que dela necessitarem, enquanto não conquistarem autonomia econômica. Os mais pobres não podem esperar nem um dia, suas demandas mais elementares devem ser atendidas hoje e não amanhã. A assistência integral à primeira infância é prioridade absoluta.


5 – A valorização do meio ambiente é um dos pilares da nova política. Essa postura não é um entrave ao desenvolvimento, é a garantia de um desenvolvimento sustentável.


6 – Não devemos gastar tempo e energia discutindo o tamanho do Estado. Seu porte e alcance e a eficiência de suas práticas – inclusive a delegação ao setor privado de serviços públicos criteriosamente selecionados – devem ser os necessários e suficientes para, com absoluta transparência, resolver falhas de mercado, respaldar os princípios da nova política e ensejar igualdade de oportunidades.


7 – A democracia, entendida como liberdade política, com acatamento à regra da maioria em torno de princípios e respeito dos direitos das minorias, é o apanágio mais importante da nova proposta. Ela combate todo tipo de discriminação de sexo, raça, credo ou status social. E se complementa com o reconhecimento dos deveres de cada cidadão perante a sociedade, suas leis e suas exigências de comportamento ético.


8 – O novo regime não se implantará de cima para baixo, como se fôra decreto imperial. Ele não nascerá em atmosfera politicamente neutra mas num sistema social complexo, com suas contradições, conflitos e as naturais disputas entre capital e trabalho. Uma vez acordados os seus cânones, quiçá semelhantes aos acima elencados, eles serão fielmente traduzidos num roteiro programático em torno de questões concretas e de seus instrumentos. Essas árduas travessias serão duramente percorridas e aos poucos superadas, a cada dia, com muito esforço e dedicação dos que anseiam pela abertura de amplas perspectivas para nosso país em seu bicentenário.


O ideário acima delineado não é novidade. Suas grandes linhas derivam da profissão de fé social democrata, corrente de pensamento e ação que ainda não conta com representação autêntica na cena política brasileira.

 

Crédito da imagem: Revista Cult


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